quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Não-querido agosto,

Nossa relação sempre foi meio complicada, mas você conseguiu me surpreender este ano. Você me machucou, devastou meu coração, me trouxe um trauma e uma ferida enormes na alma. Entretanto, eu gostaria de te agradecer, na medida em que me mostrou coisas que, antes, eu não tinha visto, coisas duras, tristes, desencantadoras. E é esse desencanto que me faz abandonar aquilo que, antes, era inabandonável. Ficou fácil ir embora e me desapegar daquilo que me causa repulsa, ojeriza. Começou com um vômito real e acabou com um vômito sentimental.
Não, não me arrependo de ser quem sou, tão aberta, tão transparente, tão entregue, tão inteira em tudo que me proponho a fazer, por mais que tenha sido absolutamente instável. Junto meus pedaços e vou me reconstruir, vou continuar acreditando por mais que tenha vontade de desacreditar pra sempre. Não posso permitir que a feiúra da alma de alguém me faça desacreditar na beleza da vida e na capacidade de recuperação, reconstrução, renovação.
Fico triste por desperdiçar a beleza da minha alma com um pacote bonito que envolvia um conteúdo de caráter duvidoso. Mas não tem revolta não. Eu sou forte, eu continuo, uma hora essa ferida se fecha, cicatriza e sorrir não exigirá tanto esforço de minha parte.
Tchau, agosto. Não volte mais.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Caio Fernando Abreu

"Fico pensando depois, enquanto o telefone toca e não atendo, que, se existe alguma forma de modificar o mundo e as organizações sociais repressoras dentro dele, talvez seja a dos poetas, uma das mais eficientes, quando abrem o coração para, devagar e sofregamente, mostrar aos outros tudo o que se passa dentro deles. É nesse momento que conceitos como moral, certo, errado, bem ou mal deixam de ter sentido. Fica no final de tudo só a vida que flui e reflui sem nome, imensa. Porque nada do que possa se passar no coração humano é vergonhoso. Nada é impuro quando acontece aquele atrevimento mágico de transformar a vida em arte."




terça-feira, 23 de agosto de 2011

Diário de uma chorona

Hoje chorei no meio de uma série de leg press. Agora meus olhos têm a mania de ficarem embaçados enquanto converso com alguém, qualquer que seja a conversa. Choro enquanto dirijo e enquanto tomo banho, ah, entro debaixo do chuveiro e choro copiosamente às 7 da manhã. Choro porque lembro a história que não vou mais viver, lembro a pessoa que não mais vai fazer parte da minha vida, não vou mais poder mandar e-mails onde arregaço meu coração e o ofereço numa bandeja, não vou mais conversar durante horas ao telefone, inventando assuntos bobos só pra continuar ouvindo a voz que soa como música clássica aos meus ouvidos. Eu choro porque acabou, porque eu decidi enterrar essa história. Coloquei-a num caixão, velei-a, enterrei-a. Agora sobrou um vazio enorme, uma falta de sentido absurda e uma gigantesca falta de interesse em tudo o mais, que perdeu a cor. Acordo, vou à academia, vou ao trabalho, estudo, vou ao ballet, vou ao mercado, eu vivo, o mundo vive, o sol continua no lugar dele as always, mas vai demorar um tempinho para que tudo volte a ter vida pra mim. Enquanto isso vou gastando minhas lágrimas pelos cantos até que elas acabem. Chorar essa história é a coisa mais digna que já fiz em toda a minha vida porque foram os momentos mais maravilhosos dos meus 26 anos de vida e eles chegaram ao fim.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

That's it

Ciclos se acabam, etapas se encerram, páginas são viradas. A vida é assim, mas eu tenho uma enorme dificuldade em deixar aquilo lá atrás, deixar irem embora e ir embora também. Talvez seja a hora de aprender isso de vez. Criar vergonha na cara e enxergar o verdadeiro significado dos silêncios que a vida me dá, entender que a falta de resposta é uma resposta em si. A realidade é dura vezenquando, é isso mesmo, Renata, não há fantasias não, não há realidade bonita escondida por trás de esquivas e empurrões, não há corações amolecidos escondidos por trás de uma parede de ferro. O que existe é isso mesmo que você está vendo, não adianta amaciar a realidade. 
Então sigo acreditando na letra daquela música: "há tantas pessoas especiais", uma hora eu encontro a minha.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Os meus encontros

É fim de tarde de uma sexta-feira corriqueira, há um sentimento diferente pairando no ar, sento-me com a Dona Distância para o chá da tarde e a pergunto quantas vezes mais precisarei cumprir essa minha obrigação social com ela. Não há respostas, fica subentendido um pra sempre; eu me calo, então.
Há tempos não encontro o sr. Desespero, acho que nossa amizade acabou-se de vez. Fico feliz. Isso deve ser um trabalho da sra. Maturidade. Não somos tão íntimas, mas tenho um contrato com ela, nossa relação é estritamente profissional.
Vezenquando, em alguns momentos do meu dia, quem me visita é minha querida amiga Felicidade, ela é leve e sempre chega com a dona Lembrança e a dona Memória, as duas me levam para um passeio até a casa do sr. Sonho, lá fazemos planos e projetos para o meu futuro, é tudo muito lindo. Então, quando estou voltando pra casa, encontro a dona Saudade, que me faz companhia durante o caminho, sorrimos e choramos juntas com um olhar meio perdido em direção ao horizonte.
Tenho andado com o coração na mão, segurando-o com todo o cuidado do mundo, com medo de quebrá-lo. Ando em passos pequenos e lentos e cuidadosos. Ando. Prossigo. Sigo.
Espero que a dona Distância tire umas férias grandes, é que ando te querendo tanto e com tanta intensidade. Seria bom você aqui.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Não tenha medo

"Não tenha medo deste texto. Não tenha medo da quantidade absurda de carinho que eu quero te fazer. Nem de eu ser assim e falar tudo na lata. Nem de eu não fazer charme quando simplesmente não tem como fazer. Nem de eu te beijar como se a gente tivesse acabado de descobrir o beijo. Nem de eu ter ido dormir com dor na alma o fim de semana inteiro por não saber o quanto posso te tocar. Não tenha medo de eu ser assim tão agora. Nem desse meu agora ser do tamanho do mundo."


Tati Bernardi

A vida

Frágil, exaurível, esgotável; a vida às vezes me assusta. Fico tão imersa no meu mundinho rotineiro que, às vezes, esqueço o essencial: as pessoas. A gente passa a vida correndo, produzindo, fazendo, apressados atrás de alguma coisa que nunca vai ter fim, inquietos. Isso é correr atrás do vento, como concluiu Salomão. Esquecemos os pequenos detalhes que fazem toda a diferença na vida: um olhar mais atento, um abraço mais demorado, uma palavra de carinho, um derramar de coração, um deixar-se frágil diante do outro.
Hoje acordei com a notícia do fim de uma vida e eu não sei lidar com o fim da vida de alguém. Hoje filhos perderam uma mãe, uma mãe perdeu uma filha, netos perderam uma avó; mas o mundo continua rodando, girando, correndo; o mundo não parou para sentir a dor dessas pessoas.
Que as nossas atividades rotineiras não dos deixem tão imersos a ponto de não nos permitir passarmos mais tempo com quem amamos, dedicarmos mais atenção e carinho a essas pessoas porque a vida é frágil e pode, simplesmente, acabar.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Deixe-me continuar te amando

Antes eu via aquele sentimento gritando dentro de mim, esperneando, querendo sair pelos meus poros para te encontrar e eu pensava, de vez em quando, que aquilo era tão intenso e que, talvez, com o passar do tempo, ele iria embora, estancaria, se extinguiria. Não, não passou. Olho pra trás e vejo tantos altos e baixos que o nosso amor enfrentou. E, sei lá, dê o nome que quiser a esse aperto no peito que sentimos quando estamos juntos, abraçados, revelando medrosamente um pouco dos mistérios do nosso coração um ao outro. Eu sei que você também sente. E, por algum motivo que desconheço, esse tal sentimento forte conseguiu amassar seu homem de ferro por dentro e colocar um coração de carne lá, o ferro só ficou por fora, eu sei, eu vejo, eu sinto.
Dá medo, eu sei, dá um medo-filho-da-puta olhar pro mundo inteiro e saber que somente uma pessoa consegue tocar o seu coração do jeito que tocamos o coração um do outro.
O meu coração investiu tudo o que tinha em você e não sobrou mais espaço pra ninguém, você o ocupa por inteiro e o restante do mundo conseguiu ficar tão sem graça, tão sem cor, tão feio, tão bobo, tão fraco, tão esmilinguido.
A razão correu pra longe da gente e eu tenho medo de ser mais uma louca de pedra dessas suas ex mulheres que te amam desde sempre e para sempre, eu morro de medo de ser mais uma idiota que te ama e que massageia seu ego. E o meu ego me diz que eu não sou, mas o ego de todo mundo puxa a sardinha pro seu lado.
Eu tenho medo, eu tenho muito medo, mas quem disse que o amor dá ouvidos ao medo? Ele continua crescendo, ele continua me desnorteando, ele continua mandando a razão embora, ele continua se hipertrofiando no meu corpo, ele continua me inchando. Eu te amo tanto que não está mais cabendo em mim, eu preciso colocar pra fora, eu preciso falar, eu preciso jogar meu amor em cima de você. Deixe-me te amar?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Sobre nós

"Escuta, de uma vez, eu poderia dizer que voltamos à estaca zero, mas esta foi cravada no dia que a gente se encontrou. Depois de tirar um pouco os pés do chão, caímos juntos e abraçados num poço escuro e vazio e sem fim. Agora estamos no negativo, a gente simplesmente deve algo um pro outro. E nem vem, não adianta, quem ama o difícil, muito fácil lhe parece. Sei da sua indolência, mas quero tentar mesmo assim, porque já não dá mais pra passar um dia sem que minha história conte um pouco da sua. Cada vez que eu for até sua boca, é um degrau de subida, a gente já foi fundo, fundo demais, não há mais como cair. De agora em diante, o maior risco que a gente corre é ser feliz."

Gabito Nunes

Um amor inventado

Ela era só uma menina perdida e cheia de bagunça na alma. Ele era o homem de ferro. Eles se encontraram numa dessas brincadeiras irônicas do senhor destino e, desde então, nunca mais conseguiram ir embora um do outro. O que eles têm não tem nome, não tem definição, não tem rótulo, não tem peso, não tem obrigação, não segue as normas básicas da vida de quem se apaixona, namora, noiva, casa e tem filhos. O que eles têm é muito maior que isso, é tão maior que não se encaixa nesse ciclo cotidiano da vida. O que eles têm foi inventado por eles mesmos. Por isso, quando alguém pergunta, não se sabe explicar, ninguém entende, só eles. Quando a vida é tão bondosa com duas pessoas e planeja um encontro tão avassalador de duas almas tão conectáveis assim como a deles o que se tem a fazer é entrar no rio e deixar a correnteza levar. Não há distância, não há tempo, não há padronização, não há. É um amor inventado.