domingo, 27 de fevereiro de 2011

Se...

Se sua partida é mesmo inevitável, se seu sonho é mesmo indispensável, se sua vida é mesmo impenetrável, ao menos arrisque me carregar junto de você.

Verônica H.

O que você não soube

O que você não soube é que eu comprei uma escova de dentes pra você e ela ficou guardada na gaveta do armário (fiquei com medo de te assustar com essa atitude, portanto não te contei sobre isso). Solitária, nunca será utilizada, nunca concluirá seu objetivo. Continuará guardada na gaveta, assim como todas as minhas lembranças sobre você ficarão guardadas numa gaveta do meu coração.

Também comprei seu leite de soja em pó e um mix de cereais, estão guardados no armário e lá ficarão à sua espera. Coitados, não sabem que você não voltará, não conhecerão seu dono.

Por você, eu decidi me dedicar à culinária, mas você não terá o prazer de conhecer meus dotes culinários.

Por você, eu tive vontade de ser uma Renata melhor e tenho sido.

Você não sabe, mas o fato de eu enxergar em você alguém que vale a pena, por mais que me tenham noticiado o oposto disso, me fez abdicar de todo um estilo de vida, de todo o meu ideal de não-apego. E eu fiz isso por mim, mas eu queria valer a pena para alguém que também valesse.

Há muito tempo eu não escancarava meu coração como o fiz com você, eu até abria uma frestinha para que algumas pessoas vislumbrassem um pouco do meu jardim do coração, mas logo eu descobria que estava jogando pérola aos porcos, e eles não sabiam diferenciar pérolas de lavagem, então eu, simplesmente, fechava a porta. Tenho a impressão de que você até conseguiu enxergar meu jardim como um tesouro. Abri a porta e te convidei a entrar, você entrou, observou, sorriu como quem gosta do que vê, passou os dedos nos jasmins, nos lírios do campo, sentiu o perfume das flores, depois voltou ao hall de entrada e quis ficar sentado, de longe, observando. Disse que ainda não era hora de interagir por completo com o jardim, porque esse jardim é especial, ele, de alguma forma, transforma quem interage com ele. Então você ficou sentado, cantarolando algumas músicas e eu fiquei inquieta, boba, ia, algumas vezes, até você, levando lírios, bromélias, orquídeas e você me dizendo pra esperar. Eu não aguentei te ter no hall do meu jardim, eu te queria lá dentro, então te pedi para sair, não fui grossa, não quis ser brigona e, talvez, eu não tenha te entendido, mas você me deu a entender que só queria o hall e que eu ficasse sempre te levando as flores do meu jardim e eu precisava de alguém que me ajudasse a cuidar das plantas junto comigo, pensei que você seria o candidato perfeito para jardineiro, te fiz esse convite, com toda esperança de que você aceitasse, mas você me disse que não era a hora certa e eu sou essa pessoa apressada mesmo, eu não sei esperar. Agora não sei o que fazer. As portas do jardim ainda estão abertas, você está do lado de fora, eu estou aqui dentro, juntando as forças que ainda me restaram para cuidar do meu precioso jardim. Tenho cantado muito, chorado um pouco e vejo as flores ficando cada vez mais bonitas, mais vivas. O meu jardim só tem aumentado e aumentado. Mas não há aqui espaço para observadores, só para um jardineiro.

O que ninguém vê

Estão todos olhando a moça passar. Falam de seu corpo, comentam seu mistério, disputam sua atenção. Mas se a moça olha, mudam de assunto, se a moça pede ajuda, ninguém escuta e se quiser companhia - coitada da moça! - vai continuar só. É assunto na academia, atrai olhares no trabalho e quando sai de noite também. Mas ela dorme sozinha e tem um vazio no peito que ninguém tem vontade de ocupar. A Menina tem um coração pesado que ninguém quer carregar.


Quem olha de longe não percebe e quem não se aproximar nunca vai saber: a Menina gosta livros e Jazz, queria saber dançar, troca uma balada pra assitir a Orquestra, gosta de andar até as pernas reclamarem, tem preguiça de filme cult e vê pequenos detalhes onde os outros enxergam cotidiano. E, acima de tudo, está cansada de tanto assustar e afastar as pessoas, cansada de esperar vidas se resolverem por uma promessa de futuro e ficar pra trás mais uma vez.


Quem vai cuidar da Menina triste? Quem vai levar de prêmio seu amor? Quem tem coragem de assumir o desafio e o coração pesado? Apostem suas moedas, esperem o próximo capítulo. Enquanto isso, a Menina também espera, e esperar dói.


Verônika H.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Lembranças

Encontrei hoje, na livraria Cultura, um professor de física que tive no ensino médio. Reconheci-o pelas costas, lembrei-me, imediatamente, do seu nome. Se eu recordo a fisionomia, o nome, a matéria que ele lecionava e a sua maneira de falar com a língua presa, mesmo em se passando quase 10 anos, como poderei esquecer-me de alguém que está tão vivo dentro de mim e que não sai dos meus pensamentos em nenhum minuto do dia?

Sobre pessoas interessantes e incongruências

"Ele está exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredon.
A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa. Não é triste pensar que, quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-la andando por aí?"

Então, Tati Bernardi, eu encontrei esta tal pessoa interessante (íssima, eu acrescentaria), mas há incongruências que nos impedem de irmos em frente. Agora eu me faço, mais uma vez, aquela velha pergunta charlotteana: Algum dia fica mais fácil?

Eu queria saber como dizer que...

"...Eu queria saber como dizer que apesar dos contratempos e da gente ter tomando uns rumos diferentes, quando eu vir você e você me ver, vai ser como se o tempo nem tivesse passado. Eu queria conseguir explicar que apesar de eu ter conhecido tanta gente nova, seu espaço ninguém tomou. Olhe, você se cuide. To aqui pra qualquer coisa, nem que seja pra te falar as minhas besteiras e te fazer dar aquela risada que mais ninguém tem e que eu sinto tanta falta...”

Caio F.

A descrição de um estado de espírito

Meu atual estado emocional se parece muito com o vídeo de St. Vincent cantando These Days. Estou sentada num banquinho, com minha Paris imaginária às minhas costas, vista da minha janela, cantando sobre o fato de eu, há muito tempo, vir perdendo. Não tenho estado muito para conversas.

Estava chovendo na saída do shopping, permiti que a chuva caísse sobre mim, chorei um pouco enquanto dirigia, eu estava em sintonia com aquela chuva, era um choro e uma chuva de paz, de tristeza com paz. Tinha um olhar distante, pensamentos também distantes, tentava cantarolar aquelas músicas que tocavam na rádio de MPB, pisei no acelerador como quem queria que o carro descolasse da pista e flutuasse e, de repente, o sol aparece tímido no céu, lembrando-me que, por mais que haja a mais forte tempestade, o sol sempre estará firme em seu posto, disposto a me aquecer e a iluminar meus mais tenebrosos dias.

Cheguei agora em casa, fechei a porta do meu quarto, fechei as janelas com as cortinas, liguei o ar, deitei-me sobre minha cama, abri meu macbook – meu atual confidente – e coloquei essa música para tocar repetidas vezes e comecei a escrever. Fiz questão de colocar o celular no silencioso, desculpem-me as pessoas que querem/precisam falar comigo hoje, mas eu só quero conversar com meu macbook por enquanto. Pretendo passar minha noite de sábado aqui, reclusa, ouvindo St. Vincent e escrevendo sobre minhas sensações. Como é libertador escrever! Estou em paz. O mundo lá fora não me parece mais interessante, neste momento, que meu mundo interior.

Tenho gostado de mim ultimamente, apesar das inconclusões amorosas e dos tantos dramas e das minhas auto-inconsistências. Estou voltando a ser alguém que me agrada. Que vale a pena. Estou voltando a valer a pena. Engraçado isso: estou aqui, sozinha, sorrindo pra minha tela de computador. É como se eu soubesse que a minha vida ainda vai me surpreender, ela sempre faz isso comigo.

Sinto orgulho de quem estou me tornando.

Fiz um coque no meu cabelo e coloquei o diadema de florzinha que uso no ballet. Engraçada aquela história de que o cabelo fica mais bonito quando vamos ficar em casa. Meu cabelo está incrivelmente bonito e sedoso hoje.

Pra esse sábado à noite eu só quero me curtir!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

As unhas vermelhas

Se você olhasse a cena do lado de fora, você veria apenas uma pessoa descendo a escada, dirigindo-se à cozinha, pegando um copo de leite com toddy e retornando ao lugar de onde veio. Mas o cenário interno era diferente. Eu olhava as minhas unhas vermelhas, nossa como elas estão bem feitas e vistosas, com um tom de vermelho que marca. Eu adoro coisas marcantes. Depois eu olhava as louças sujas sobre a pia. Amanhã eu vou lavar todas elas, amanhã eu vou lavar todas as roupas sujas jogadas no chão, arrumar os papéis espalhados sobre essa mesa. Então eu me sentia bem porque, afinal, eu estava dando um sentido à minha vida, um sentido bobo, mas já era algo. Foi então que pensei nas unhas vermelhas vistosas e bem feitas, se eu fizesse tudo isso, elas se estragariam. E eu não posso escolher as duas coisas? Eu quero as unhas bonitas, mas eu também quero um sentido, mesmo que banal, pra minha vida. E eu não posso ter os dois? Por que, quando somos felizes, sempre aparece algo para escolhermos? Não posso apenas ter tudo de que gosto? Eu não quero fazer escolhas. Eu não quero abdicar de algo de que gosto. Mas é assim a vida, Renata, falava manso o meu lado adulto e maduro. E eu respondo, é, a vida é assim, mas eu ainda posso recorrer às luvas, respondia o meu lado mágico e infantil que sempre acha uma solução para os problemas encontrados pelo lado adulto.

[Escrito por mim em setembro de 2007 e, quase 4 anos depois, ainda consegue ser atual]


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Uma carta de despedida

Estou na fase de aceitação do fim. Tenho me recusado a me perguntar os porquês. Não há. Sempre soube que tudo tem fim, sempre me preparo para os fins, mas nunca estou pronta quando chegam.

Foi bonita a nossa história, é isso que quero guardar. Acho que eu posso elegê-la como a mais bonita da minha vida. Talvez seja exagero meu, talvez não.

Guardo seus abraços quando eu os pedia: “me abraça”e permanecíamos abraçados e em silêncio por um tempo. Você não deve saber, mas isso me libertava e, ao mesmo tempo, me aprisionava numa bolha que era só nossa, naqueles 5 minutos eu era toda sua e você, todo meu. Guardo seu sorriso de quem se sentia pleno ao meu lado (pode ser presunção minha pensar assim, mas as lembranças são minhas então quero poder ser presunçosa). Guardo aquele sentimento forte e bonito que nos envolveu quando ficamos deitamos no seu sofá e você não sabe, mas, naquele dia, eu entreguei, em segredo, meu coração a você. Guardo o dia em que andamos de mãos dadas no shopping depois do nosso primeiro cinema. Guardo tantas lembranças bonitas.

Mas acabou. Dizemos tantas coisas e entendemos tudo errado. A vida seguiu o caminho que devia seguir. Tudo tem um propósito, nada é por acaso.

Que algum dia, eventualmente, eu te entenda e você também me compreenda, ou não. Eu só não gostaria que existisse inimizade entre nós ou indiferença – esse sim é o pior dos sentimentos, na minha opinião. Deixa o tempo curar, abaixar a poeira e estabelecer o que tiver que estabelecer.

Tanta coisa se passa na minha cabeça, tento afugentar os pensamentos, esse é o meu esforço minuto após minuto. Sei que talvez eu tenha vivido sozinha tudo isso que escrevi aqui, talvez não. Quero acreditar que foi recíproco.

Não tenho medo de me expor, tenho aprendido a não deixar meu medo me emudecer, me negar. Não tenho medo de “perder meu orgulho”. Esta é a minha essência, falar, escrever, expor os meus sentimentos.

Meu coração, meu corpo e minha cama sentirão sua falta, mas nós aprenderemos a viver sem você. O tempo é o melhor remédio, ele não apaga nada, mas tira o sentimento de falta do centro das atenções.

E, por fim, eu gostaria que você soubesse que você me ensinou a ser uma pessoa melhor, de verdade. Obrigada. Foi (muito) bom enquanto durou.

“Que o Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e te dê a paz”.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Esta (louca) sou eu

Esta sou eu, despida da minha fortaleza, descida do meu salto alto, sem minha maquiagem, com o rosto opaco. Esta sou eu te dizendo que você não me faz bem. Sim, você também não me faz mal e é este, justamente, o ponto: Você não me faz nada. Eu fico à deriva, esperando você, criando expectativas que me ferem a alma.

Talvez você seja mais uma parede em minha vida. Sim, é uma parede até educada demais para um conjunto de tijolos pintados, eternamente estáticos. Estou cansada de paredes que só se enchem de vida quando em contato com outras vidas, não com a minha. Vivo esperando alguém que aceite meu sopro de vida. Mas nunca chega alguém e ninguém nunca aceita.

Não quero ouvir palavras bonitas que são pura teoria sem prática. Não acho isso bonito, acho feio. Não quero ouvir palavras que saem diretamente da garganta, não foram processadas pelo coração, não possuem a profundidade da alma, mas apenas a estreiteza daquilo que é inteiramente físico.

Esta sou eu com o dedo na garganta, vomitando as minhas elocubrações.

Esta sou eu querendo que alguém, aparentemente mudo, grite para mim.

E, finalmente, esta sou eu te pedindo para ir embora, mesmo querendo que você fique, mesmo sabendo que você já se foi, mesmo sabendo que você, na verdade, nunca esteve realmente aqui.