segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O de sempre, desta vez sem açúcar

Subi as escadas num súbito desejo de chegar logo em casa. As sacolas que eu segurava pesavam meus braços, impedindo-me de subir mais rápido. Eu queria tanto chegar em casa e fechar a porta e me esconder do mundo.

Após esse meu ritual de reclusão, fui até a cozinha: louças sujas por toda a parte, lixo jogado em todos os cantos, frutas podres dentro da fruteira. Aquele era tão exatamente o retrato da minha alma que comecei a chorar ali mesmo, um choro de muita lágrima e gemido, choro-com-vontade-de-arrancar aquele nó que enforcava meu pescoço e me deixava sem fôlego.

E o nó afrouxou, mas isso só me fez chorar mais, soluçar, gemer. Eu precisava chorar o choro de meses guardado em mim.

A Bruna Caram está cantando agora, mas nem isso me tirou a vontade da falta de vontade. Porque uma coisa puxa a outra e quando se percebe há o escuro, o vazio e o silêncio. Só.

Não quero mais o que é unitário. Quero o dobro disso. Quero o dois e não quero nada ao mesmo tempo.

Ai, Bruna, você canta e sorri com tanta leveza que me faz pensar que tudo é tão feliz. Mas agora não é. Agora é tudo barata, esgoto e podridão.

Amanhã a Jô vem limpar o apartamento. Ela faz milagres. Fica tudo limpo e no lugar. Por outro lado, não há quem limpe e organize a minha alma. Deveria ser eu. Deveria ser eu. De-ve-ri-a ser eu! E não dou conta do recado.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Inferno astral

Inferno astral, seu lindo, você já chegou na minha vida, trazendo essa sensação chata de falta de sentido, angústia aparentemente sem motivos e esse gosto amargo na boca. Eu não precisava disso não, meu querido.

sábado, 16 de outubro de 2010

A auto negação, filha do medo

E ninguém entende que o que se vê por fora é totalmente diferente do que está lá dentro. E ninguém quer saber, desbravar, descobrir. Portanto, ficam só com a superfície que pode até ser bonita, mas nunca oferecerá profundidade.
A profundidade da minha alma, então, mantém-se guardada, à espera, à deriva. Uma espera que há muito já me cansou.
Eu quis tanto que você conhecesse essa profundidade, a verdade do meu ser, o pedaço mais importante de mim, o clímax da minha alma, mas você se deixou levar pela superfície enganadora.
Por que mantenho essa casca mentirosa? Meus descaminhos já me machucaram tanto que sinto medo de oferecer verdades e receber desdém em troca. E, por isso, me inventei desse jeito eu-não-ligo-pra-ninguém.
Por que permitimos que o medo nos transforme tanto assim? Somos tão covardes, meus Deus. Eu quero tanto, um dia, encontrar alguém que me faça ter a coragem de arrancar essa máscara de vez, colocar os dois pés firmemente sobre esse caminho que será novo pra mim.

sábado, 9 de outubro de 2010

Um desabafo antigo

Vem assim de repente, aos sábados à tarde, geralmente. Um medo de mundo, um pavor daquela toalha pendurada ali no suporte, um pavor sem sentido. Um choro seguido de outro e de outro e de outro. E choro e paro e começo denovo e paro denovo. Unhas vermelhas com as pontinhas saindo, é justo, pois hoje faz uma semana que as pintei. Não consigo encontrar a música certa para esse momento, então coloco Maria Gadu, não sei quem é, mas foi a única que consegui colocar rapidamente. Há momentos que pedem desesperadamente uma música. Agora, por exemplo. Aumento o volume. Choro de novo, mas minha vontade é vomitar porque vomitar é mais dramático, mais drástico. Alguns momentos pedem decisões drásticas. Agora, por exemplo. Abro a geladeira e vejo a caixinha de morangos, as frutas na fruteira, as barrinhas de cereal com chocolate e eu queria sem chocolate, mas não pude dizer isso pra minha mãe porque ela decidiu não falar mais comigo. E eu sou dramática e ninguém pode ficar sem falar comigo e muito menos a pessoa mais importante da minha vida. Então eu decido, em plena tarde de sábado, que eu não sou uma pessoa feita para viver e relacionar-se com outras, eu sou o tipo de pessoa que fica só, porque eu não sei lidar com as pessoas. Decido, então, afastar os contatos e os relacionamentos, tudo. Só, eu sou melhor. Só, eu permito que os outros sejam melhores. Decidi isso sentada no meio fio em frente ao prédio, esperando alguém chegar com a chave que nunca chegava. E lembrei de você me contando que já tinha ficado em coma, agora que eu fui entender a gravidade do que você me contou aquele dia trágico e mágico, meu coração ficou apertado, tão apertado e me deu uma vontade absurdamente grande de te abraçar e não te soltar mais. Viu? Por mais que eu me obrigue a não pensar em você, você está sempre rondando meus pensamentos. Até quando penso em solidão e decido solidão, vem você querer me fazer desistir dos meus impulsos raivosos-de-mundo.Vá embora, mas não se esqueça de ficar!