sábado, 19 de dezembro de 2009

o sábado à noite e o nada

Ah, unhas rosa-choque, tudo está tão faltoso hoje. E agora me vieram lágrimas nos olhos. Um sábado tão, tão, tão profundamente vazio. O que está acontecendo? Unhas rosa-choque não combinam com vazio e com esse sábado triste lavando roupas e louças, levando o lixo pra lixeira do prédio e lendo aquele livro tão triste e com personagens tão solitários. Cheiros tão agradáveis de comidas caseiras que me lembram cenas familiares ao redor de uma grande mesa de jantar estão atravessando a janela e me acariciando como se me convidassem a sair flutuando no ar em busca de sua fonte como nos desenhos animados. Ouço Sigur Rós. Olho para as minhas unhas e as balanço no ar em busca de algum movimento colorido que me traga alegria. Não estou triste, nem alegre. É mais uma sensação-isopor, não sinto nada, não consigo distinguir o que se passa em mim. Esse vazio tem gosto de isopor. E tudo que eu queria pra esse sábado era um sabor diferente, exótico ou então algum comum mesmo, mas algum sabor em vez desse isopor insosso. Abri o google e procurei uma receita de bolo de brigadeiro. Cozinhar pode ser uma boa terapia para dias assim. Não tinha farinha, nem fermento. Problema de se morar sozinha porque essas coisas sempre estavam presentes na minha antiga casa. Depois procurei receitas de risoto, mas não devo comer arroz. Aí vem minha obsessão pelo meu corpo deformado pelos meus olhos perfeccionistas. Então deitei-me no sofá, liguei a tv na novela e a assisti, assim num surto de fazer coisas que nunca havia feito num sábado à noite ou mesmo em qualquer outro dia da minha vida. Não sou muito o tipo de pessoa que assiste a novela da noite, no máximo algumas olhadelas no vale a pena ver de novo. Cilada e seu último episódio foram trinta minutos de diversão. Agora isso aqui que eu não sei o nome. Não estou triste. Mas não sei o nome. Então voltarei para a única coisa que me espera: meu bom livro e minha cama. Semana que vem eu desconto essa sensação de nada lá na praia com um copinho na mão e um sorriso no rosto.

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